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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Família Margarina

Quando vejo o comercial da margarina sempre fico triste. Você olha aquela família extremamente feliz e sorridente, se amando muito,com todos os membros lá, – pai, mãe, filhos, avó, cachorro – como manda o figurino.
Beijinhos pra lá, beijinhos pra cá, ninguém acorda com mau hálito, remela, cabelo desarrumado, ou de mau humor. Jamais.

E é claro que a mesa do café da manhã é sempre vasta. Cinco tipos de suco, bolo de milho, de chocolate, de coco. Pãozinho tão crocante e quentinho, que a bendita margarina até derrete.

Todos a postos na mesa.
O filho mais velho faz aquela piadinha super sem graça, mas que todos acham demais e demonstram isso com uma maravilhosa gargalhada.

A filha caçula dá um sorriso discreto e angelical, e a sardinha nas bochechas a deixa ainda mais fofa.

O pai é o mister simpatia. Coroa conservado, com cabelo branco alá Roberto Justos e sempre muito legal com os filhos. Dá aquela bronquinha de leve e nada mais.

A mãe, uma mulher de meia idade belíssíma, magra, com os cabelos um pouco acima dos ombros e logicamente lisos, e ainda dona de um sorriso simplesmente perfeito. Chama a atenção dos filhos de maneira educada e branda, sem alterar o tom de voz. Como todas as mães do mundo, lógico. Nunca usando de ameaças para com os seus herdeiros.

A avó é apresentada como uma senhorinha de cabelos branquinhos e curtinho, usando óculos de grau, toda engraçadinha e guti guti, frágil e um pouquinho lenta com as piadas da mesa.

Só que a realidade não é assim.
As pessoas normalmente nem tomam café da manhã, e quando tomam, não fazem isso juntas. É cada um acordando no seu horário e saindo pra uma direção da cidade, porque simplesmente os horários não batem.

Fora que as famílias de hoje, na maioria das vezes, são composta apenas pela mãe e pelos filhos, ou somente um casal , ou ainda a avó e os netos. Outra coisa que não condiz é aquela mesa farta. O café diário do brasileiro é o pãozinho com margarina e um café pretinho, nada de sucos e bolos como a propaganda mostra.

Quero pedir a você, meu caro leitor, que não esmoreça como eu, depois de assistir a um comercial desses. Porque afinal, qual seria a graça de ter esse majestoso espetáculo todas as manhãs?  Se isso acontecesse na sua vida como uma rotina, você nunca daria valor ao pão quentinho, aos beijos e abraços calorosos, a companhia rara da sua avó que mora lá no interior de minas, ao bolo de milho que ela fez especialmente pra você, e tantas outras coisas que acontecem em fins de semana especiais.

São nessas ocasiões que acontecem os festivais de sucos, bolos e diversos tipos de pães. Os parentes acordam felizes e bem humorados, contando causos realmente engraçados e que nos fazem dar boas gargalhadas.
Por isso, não vamos nos lamentar, vamos é agradecer por termos a oportunidades de sermos agraciados por esses raros momentos. Momentos esses, que acabam por fazer toda a diferença nas nossas vidas.



É ficção minha gente! - Intervalo das Gravações
 http://www.flickr.com/photos/marcusleite/2694156574/in/photostream


Olha lá a menininha linda tentando decorar o texto... hunf u.U


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Quero agradecer a Stephanie Rodrigues pela colaboração na construção desse texto, porque sem ela, eu estaria até agora procurando a família Doriana, ao invés de Qualy. Palmas pra ela =D

5 comentários:

  1. Por que raios a avó tem que morar no interior de Minas?

    Mas, enfim...É isso ai, não existem perfeições, familias perfeitas não existem...tudo que demonstra ser perfeito demais é só abaixar a cortina pra ver o desastre. E temos que saber valorizar o momento perfeito, porque esse sim existe! Mto bom, Fê! (:

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  2. Fê, vce sabe que eu não costumo comentar nos textos, mas, desta vez, resolvi fazer diferente, então lá vai...
    Este seu relato me fez lembrar de uma época mto ruim da minha vida. Eu tentava mostrar pra todos uma perfeição inexistente, tentava mostrar que estava "tudo ok" e me frustrava quando caía na real e percebia que não passava de uma invenção minha.
    Bom, hje eu já tô grandinho (rs) e percebo que eu não sou perfeito assim como ninguém é. Ao invés de esconder os meus problemas, eu os compartilho com amigos como vce, que eu confio e sei que me ajudarão.
    Enfim, minha família não é a da margarina e minha vida tbm não. Como tenho isso claro em meu pensamento, não fico mais desanimado ao ver esses comerciais xD

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  3. Fê, muito bom!!
    Como falei para você outro dia, nada perfeitinho tem graça, tudo que se torna rotineiro é chato...
    Nada como inovar...
    Realmente são os pequenos detalhes que fazem a diferença, são os momentos mais simples que torna a vida tão prazerosa... e são por esses momentos e por pessoas especiais que vale a pena acordar dia após dia!
    Até pq, quem precisa de diversos tipos de sucos e bolos na mesa do café, quem precisa de pão quente e de uma família que nunca briga??
    Diz aí, tem coisa melhor que fazer as pazes, tem coisa mais divertida que implicar com o irmão mais novo, de aprontar e colocar a culpa no irmão mais velho (no seu caso) em?! suahsuahsuhau
    Acho que não !!

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    Obs.: Por nadaa... (Palmas para mim) hahaha xD

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  4. Poxaa muito boom.. gostei! xD
    Pra falar a verdade eu nunca tinha reparado na família e sim no pãonzinho quentinho derretendo a "MARGARINA"...hahahaha(huummm) mas é isso aii não vale a pena ficar triste vendo esses comerciais.. o bom da vida é exatamente "TUDO" o que acontece nela, independente ser for ruim ou não! o/

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  5. Theodor Adorno e Max Horkheimer ficariam orgulhosos de ver como estamos percebendo a ação da Indústria Cultural ;D
    Ficou muito legal o texto Fê, e, qualquer dia, me convide para um desses cafés da manhã na casa da sua avó, no interor de Minas! ;DD

    P.S: Não li nenhum desses comentários enormes aí em cima /\ :S. Só o do Bruno porque ele é santabalburdianês.

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