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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O túnel

Era um lugar escuro. Um túnel subterrâneo talvez. O chão estava cheio de lama.
Quando abro os olhos, em meio aquele fedor, fico sem forças para me levantar. Minha cabeça pesa mais que o corpo inteiro.
Minha face esquerda estava encostada no chão. A boca semi aberta e olhos cerrados. No meu campo de visão, o nada. Coloco impulso no braço direito pra poder me levantar. Jogo minhas costas na parede fria e áspera, tentando recuperar o fôlego que uma simples ação me tirara. Era estranho. Não sabia onde estava e o que havia acontecido na noite anterior. Na verdade, não sabia sequer meu nome.
Com a ajuda da parede, consigo ficar em pé. Começo a andar mancando. Meu abdômen dói demais. O pressiono contra a minha costela para tentar cessar a dor, mas não adianta.
Percebo que meus olhos se acostumaram àquela escuridão.
Continuo andando.
Diante daquela imensidão, só consigo escutar meus passos e minha respiração ofegante. Havia medo nela. Um medo misturado com asma. Por pensar muito nisso, minha garganta começa a secar. Arranhar. Fechar.
Apoio novamente na parede. Pressiono tanto os olhos um contra o outro, que levanto meus lábios e passo a impressão de estar sorrindo. Mas não estou.
Começo a ficar agoniado. Choro. É um choro silencioso....interno....só meu.
Limpo o rosto com as costas das mãos. Sinto-me um idiota, fraco, miserável, estúpido.Humilhado.
Um vulto passa bem na minha frente, tão rápido que perco o equilíbrio.
Caio novamente no chão e em um estalo lembro o que me acontecera.
Estava voltando do trabalho quando uma caminhonete bateu no meu carro bem no cruzamento.
-         Hemorragia interna, dizem os paramédicos.
-         Pobre menino, tão jovem – uma senhora que passara comenta.
Colocam-me em um saco preto.
Escuto o zíper se fechando.
Levam meu corpo embora. Irão avisar a minha família.
Quando volto desse flashback, percebo que meu abdômen que doía, agora sangra, e faz uma poça de sangue ao meu redor.
Começo a gritar, a chorar, a berrar: Socorro!
Mas quem pode socorrer um morto?
Fico mais calmo.
Olho ao redor. Fecho os olhos. Curto o silencio. Uma brisa suave acaricia meu rosto. Dou um sorriso sem mostrar os dentes. Isso tudo é bom.

Talvez morrer não seja tão ruim.

"Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada." (Fernando Pessoa)

4 comentários:

  1. AAAAAAAAEEEEEEEEEEWWWWWWWWW!!!!!!!!!!!!!!!!
    Que texto perfeito!!
    As descrições das ações são milimetricamente detalhadas! ;D
    amei! parabéns!!

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  2. Faz a gente se sentir lá Fê, muito bom!
    Só não entendo como a morte provoca tamanho fascínio em vocês hahaha..

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  3. CURTICURTI
    Fiquei com dó do cara com a boca semi aberta no chão cheio de lama =X

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  4. Nossa Fê, deu pra imaginar cada cena, cada ação. Realmente como se eu tivesse vendo tudo o que acontecia.
    Parabénss!!

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