Ela não estava se sentimento bem naquele dia. A roupa estava amassada, o cabelo desarrumado, a unha roída, o tênis por limpar.
Pegou o ônibus e imaginou se morresse naquele dia. Morreria triste, feia e sem dinheiro. Que deselegante.
Pensou na cerimônia de sepultamento e como iriam prepará-la para a despedida. Provavelmente seu cabelo seria lavado, trocariam a roupa pelo vestido branco com flores vermelhas, e o tênis sujo seria substituído pela sapatilha rosa que ela tanto gostava.
No velório a família receberia palavras de conforto por todos os lados. Teceriam elogios. Os feitos da falecida seriam esmiuçados para a todos os que estavam no local. Haveria choro. E até risadas. Não da morte, e sim dos momentos de vida.
Vida. Isso era o que menos importava naquele instante. Aquela era a hora da morte, da auto análise, do momento de reflexão. E até na morte alheia, as pessoas pensariam no próprio umbigo. A garota que estava ali sem pulso, bem no meio do salão, era apenas um objeto, um acaso, uma eventualidade.
Quando a hora do enterro chegasse, alguns aproveitariam o momento para ir embora, outros cumpririam o ritual até o final. Como atestado de presença.
O que as pessoas não notariam era a tristeza da menina, que morreu jovem demais, infeliz demais, cansada demais.
Ah, mas ela era uma menina tão boa...
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