O cartão

Ele entregava um cartão à esposa todos os anos, como aniversário de casamento.

Era azul com flores amarelas na capa, e um “eu te amo” em letras douradas dentro.

Nos primeiros cinco anos, ela achava essa atitude linda: “quanto romantismo e cuidado”. Após dez anos, a graça tinha acabado. Desejava algo novo, queria ser surpreendida, mas o marido deixava sobre a cama sempre o mesmo cartão azul.

Em um determinado ano, ela decidiu parar de ler as dedicatórias feitas na contracapa. Recebia o cartão, dava um sorrio e agradecia a gentileza do marido.

Ano após ano, as flores amarelas eram guardadas em uma caixa em cima do armário.

Quando o casal completara 50 anos de matrimonio, o esposo faleceu. Assim, de repente, sem nenhum diagnóstico prévio.

A esposa ficou desolada. Dia após dia lamentava a morte do seu amado. Foi quando decidiu abrir aquela caixa que continha 50 cartões azuis com flores amarelas e um “eu te amo” em letras douradas no interior.

Um por um, os textos escritos com tanto carinho eram lidos pela mulher.

Terminou de ler. Fechou a caixa. Colocou um laço vermelho em volta e guardou novamente em cima do armário.

Ela nunca mais abriu a caixa, nunca mais falou do marido e nunca mais voltou a chorar.