Conversa de orelhão

-Alô?
-Oi...tudo bem?
- Tudo, quem é?
- É a Mônica.
- Mônica? Que Mônica?
- A Mônica.
- Mas Mônica da onde?
- Da onde? Hum...não sei...
- Olha, se isso for uma brincadeira, pode ir falando logo porque não tenho tempo pra ficar jogando conversa fora, entendeu?

(Silêncio)

- Alô?!
- Oi...
- Não vai me dizer que Mônica está falando?
- Sou a Mônica que mora no Tatuapé. Tenho 32 anos, separada, fisioterapeuta. Isso ajuda?
- Ajuda, mas acho que não te conheço. Ligou pra pessoa errada moça.
- Quem é você?
- Sou o Carlos. Carlos Soares.
- Só isso?
- Só isso o que?
- Só isso que tem pra me dizer de você?
- Não...moro no Ipiranga, tenho 35 anos e sou contador. Ah, e solteiro.
- O que vem agora?
- Como assim?
- O que vem depois da ficha cadastral? Sempre quis saber como as pessoas desenvolvem o resto da conversa.
- Acho que agora temos que tentar achar algo em comum. Uma música, um filme, sei lá. É assim que as coisas funcionam.
- E depois? Tipo, vamos dizer que eu e você amamos o filme “Um amor para recordar” e gostamos de ouvir “Detonautas”. Só isso já basta?
- Eu não sei. Nunca passei desse estágio. Quer dizer, já passei, mas...sei lá. Meooo, por que me ligou? Eu nem te conheço!
- Insensível!
- Louca!
- Não quero mais falar com você.
- Eu nunca quis, você que me ligou!

(Silêncio)

- Carlos...
- Hum!
- Essa foi a nossa primeira briga...
- Eu sei...vamos fazer as pazes?
- Sim, não gosto de brigar.
- Nem eu.

(Silêncio constrangedor)

- Então é isso. Obrigada pela conversa moço.
- Pera, como assim "obrigada pela conversa"? É só isso? A gente precisa marcar alguma coisa, cinema, jantar, sei lá.
- Nem...não gosto dessas rotinas amorosas. Até mais.

(Tu-tu-tu)

 - WTF???

Carlos não conseguiu dormir aquela noite. Ele passou a esperar todos os dias, no mesmo horário, outro telefonema de Mônica.
Só que ela nunca mais ligou.