Que se dane negão

Tava lá de boas, quando a chuva começou. Mô toró tá ligado? Me desesperei na hora. Pô tava toda bunitinha, cabelo arrumado, maquiada, ropinha limpinha, e aquela aguacera do céu despencou bem na minha cabeça.

Desci do ônibus no corre, manja? Mas não adiantou nada nego. Pisei na poça, passei por debaixo de uma calha e trombei em uma árvore. Foi osso.

Aí parei e pensei: “Pra que correr? Já encharquei meu jeans mesmo”. Fui andando até meu barraco. Era a única doida lá na vila que não corria pelas ruas. Aproveitei cada gota, cada vento, aproveitei o momento.

Quem faz isso hoje em dia preto? Quem pára pra tomar banho de chuva? Ninguém brow. Tá todo mundo no zum zum zum. Preocupado com o vucu vucu e com o paracubaco. Não tão nem ai pras esses fenumino da natureza.

Ah meu rei, confesso que eu gostei da parada. Andei até mais divaga pra curtir as gota caindo na minha cara.

Mas e a maquiagem? Já ia tirar mesmo.

E sua roupa? Boto na máquina e amanhã tá cherosinha.

E a chapinha? Chapinha?

Ei negão pirou? Meu cabelo é cacheado. 

Baseado em fatos reais.