O ladrão

Escutou a porta sendo arrombada. Ouviu os passos do assaltante vindo em direção ao seu quarto e nada fez. Ficou ali, inerte. Alheia a situação, como se não fosse com ela.

Estava encostada na cabeceira da cama com seu computador no colo, escrevendo. Nesses poucos segundos que esperava por ele, refletiu sobre toda a sua vida.

Permanecia imóvel. Entorpecida.

De repente lhe bateu o desespero. Percebeu que queria viver, que tinha motivos pra continuar. E em um ímpeto saltou da cama e correu para dentro do armário. Ficou ali, encolhida com o rosto entre os joelhos, orando para não ser descoberta.

O casaco vermelho e amarelo que sua avó fizera no último natal, serviu-lhe de camuflagem, como uma máscara caso o homem abrisse aquela porta.

As batidas do coração estavam nos ouvidos. Tapou a boca com as próprias mãos para que o barulho da respiração não fosse audível ao ladrão.

Ele entra no quarto e procura pela moça. Sabe que ela está em casa. Pega o notebook de cima da cama e lê a frase escrita no Word pela menina.

Ele empalidece, perde as forças. Apóia-se no colchão para recuperar o fôlego. Puxa a tela para perto e lê novamente a frase.

O coração não resiste e pára de bater. Aquilo foi demais para ele.