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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Contaminação

A [...] foi fabricada. Linda, reluzente, nunca tinha sido tocada.

O homem que trabalha no banco e está com infecção a coloca em um saco alvo, com um $ verde estampado do lado de fora. Um.

A [...] é transportada em um carro forte pelo segurança parrudo que está com herpes. Ela é colocada em circulação. Dois.

Agora a [...] está em uma caixa registradora, esperando para ser o troco de alguém. O senhor que comprou um maço por R$3,85, paga com duas notas e espera os seus R$0,15 centavos de volta. Três.

Ele sai com elas no bolso. Quanto passa pela Quinta Avenida, avista um mendigo com alguma doença na perna. Sensibilizado, ele tira a [...] do bolso e a entrega ao rapaz. Quatro.

No fim do dia, aquele homem vai ao mercado comprar pinga para esquecer todo o mal que lhe aflige. A [...] não chega a entrar de novo na gaveta, porque um jovem viciado de 16 anos entra no mercadinho com uma pistola 380 e a rouba. Cinco.

O garoto é surpreendido por policiais na esquina do posto e deixa a [...] cair.
A [...] fica parada ali até o dia amanhecer.

As seis da manhã, a menina de cinco anos desce do carro com sua mãe para tomar café. Ela avista a [...] e corre para pegá-la. A garotinha fica muito feliz. A mãe sorri. Seis.

O café dá $8,05. A mãe dá uma nota para a filha em troca da [...]. Sete.
A [...] volta para a gaveta.

Uma senhora de setenta e dois anos que sofre de pneumonia, a recebe como troco pela revista de tricô. Oito.
A idosa guarda a [...] na bolsinha vermelha e vai para casa.

Chega à noite. É quarta-feira, dia de culto na igreja ao lado de sua casa. Ela se arruma toda e borrifa no pescoço o perfume dado pelo seu falecido marido. O frasco já estava no fim.

Na igreja, o pastor prega sobre dízimo e oferta. Quando passam recolhendo as doações, a senhorinha abre aquela bolsinha vermelha e coloca a [...] na salva.

A mulher de cabelos castanhos que faz a contagem das ofertas e sofre de imunidade baixa, guarda todas as [...] em uma caixinha. Nove.

Essa mulher é casada e tem um filho. Na sexta-feira ela começa a sentir dores. Após uma semana ela morre de pneumonia.

E a [...], por onde anda?
Ela está por ai, no bolso de alguém.Talvez no seu.


Um comentário:

Ah...fala o que achou pô!

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