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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Michele

Ela estava parada na fila do caixa esperando para pagar a sua dúzia de ovos, o pacote de pão de forma e o suco de laranja. Faria um lanche que tinha visto no programa da Ana Maria Braga e que parecia delicioso. Estava de folga naquele dia. Seis pessoas estavam na sua frente. Um moço para atrás dela e começa a puxar assunto:

-         Oi, esse não é o caixa rápido de 10 volumes?
-         Isso mesmo
-         Então você não pode estar nesta fila.
A moça intrigada, sem entender olha para o rapaz e diz:
-         Como não, estou com três coisas só.
-         Mas é por item, se for contar direitinho, só de ovos você tem doze.
-         Ah....ha ha ha (ela não achou graça, mas rio por educação e porque ele tinha um sorriso lindo). Pois é, passei o número de itens, puxa vida.
-         Mas se valer pra você também vale pra mim, porque devo ter umas quinze batatas aqui, rsrsrs.
-         É mesmo, então vamos disfarçar. Assim ninguém irá perceber.
-         Hahaha, prazer, Vitor.
-         Michele. – Ela sorri.

Se Michele não tivesse rido da piada sem graça de Vitor, talvez ela não começasse a namorá-lo. E depois de um ano e meio casado. Não teria parado a faculdade de direito para cuidar da gravidez não planejada. Teria menos estrias. Também poderia evitar a dor da separação por causa da traição de Vitor com a melhor amiga. Não estaria depressiva e gorda. Quem sabe estaria feliz, viajando nessa tarde de domingo pela Europa, ou curtindo Orlando, ao invés de estar deitada no sofá assistindo Programa do Gugu e chorando por causa da reforma da casa de uma família necessitada.

Ela deveria ter dado uma chance para Roberto, amigo gago da faculdade.
Eles se casariam no dia sete de outubro, na igreja de São Francisco, em Ribeirão Preto, cidade natal dele. Terminariam a faculdade juntos. Ela começaria a trabalhar na promotoria de São Paulo, indicação de Roberto, e ele, no escritório da Rua Embaixador Almeida de Lima.
No dia em que fizessem cinco anos de casado, após um jantar romântico no Lê Vin Bistrô, eles conversariam sobre ter um filho. Concordariam que aquela era a hora certa e após cinco meses, ela ficaria grávida de uma menina. Depois que sua filha Luiza estivesse maior, ela prestaria um concurso público e seria aprovada para ser juíza, e Beto abriria seu próprio escritório: Lins & Dias Associados.
Enfrentariam crises no casamento, Michele sofreria ameaças por parte dos réus e Beto perderia alguns clientes, mas passariam por isso juntos. Luiza seria uma menina muito estudiosa, e entraria na faculdade federal no Rio de Janeiro sem fazer cursinho. Mudaria de cidade. Michele choraria muito.
Depois de três anos faria uma plástica no abdômen para corrigir os efeitos da cesariana de 21 anos atrás. E para comemorar faria uma viagem para Nova Zelândia. Uma segunda lua de mel. Na volta, Luiza contaria que conheceu o homem da sua vida e que iriam se casar após a faculdade. Beto não ficaria muito feliz com a notícia.
Após o casamento de Luiza, eles decidiriam mudar a vida radicalmente. Ela se aposenta, e ele transfere o escritório para o interior.
Luiza os visitaria de dois em dois meses, às vezes de três em três. Chegariam os netinhos e as visitas se tornariam mais freqüentes. Roberto construiria uma casa na árvore para os dois meninos no fundo do quintal. Michele faria o bolo de cenoura que todos amavam, com cobertura extra de chocolate.
Após nove anos, Roberto morreria vítima de um derrame e Michele morreria no ano seguinte, de saudade.

Se ela não tivesse assistido ao programa da Ana Maria Braga, ou se estivesse trabalhando naquele dia, se por acaso não tivesse achado o Vitor bonito, ou, simplesmente se Roberto não fosse gago, ela teria uma vida diferente agora e não estaria bebendo veneno enquanto assiste Fantástico.


9 comentários:

  1. CARAAAAAAAAMBA! Não sei dizer qual parte ficou mais emocionante, estômago deu um nó! Muito bom, muito boooooom :d

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  2. Apesar de eu já ter uma noção de como seria o desfecho, vc superou minhas expectativas.
    Confesso que viajei com vc durante todo o texto.
    Enfim Fe...
    Amei... Amei & Amei...

    Obs: Mando super bem =D


    ( *-* Agora diz que eu não sei ser fofa... diz!!) kkkkkk

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  3. DEMAIS!!! *-*
    Acho que a trilha sonora q eu tava ouvindo me ajudou, mas parabéns! hahaha, vc é mais madura até nos textos. Te admiro e te amo! s2

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  4. Coitada da Michele, péssima escolha! HSUAHSUHAUHS

    O texto está demais, como sempre ensinando coisas com seus textos, e nos fazendo pensar!
    E queria deixar registrado que leio TODOS os seus todos e dos outros blogueiros lindos, e que você fica melhor e melhor a cada dia! *---*
    Parabééns, Fê! :D

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  5. E ela nunca saberá... E como saber, né?!

    E você... Gatão da fila (sensação de adrenalina por se envolver com um boa-pinta encontrado ao acaso) ou o gago da faculdade (conhecido por todos e que não te exaltaria frente à família e amigos)?

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  6. Poxa Feer.. mto bom msm!

    Esses dias atrás estava pensando sobre isso tbm... "Nossas Escolhas"!...

    ...Elas tem o poder de modificar toda a nossa trajetória!

    Parabéns!

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  7. Filha lindoooooooo....como sempre me deixou emocionada!!! Te amo meu amor...minha princesinha.

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  8. Minha imaginação viajou pra mais e mais longe a cada linha e fiquei mais que surpreendida (mesmo que sem motivos, pois você sempre se supera).
    O texto é sensacional, sim. Mas o enredo da história e o sentimento de realidade e até de uma certa angústia que ele passa é indescritível.
    E você...é fantástica! =)

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Ah...fala o que achou pô!

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