Amélia

Todos ficaram em silêncio. Cada um em um canto, se ocupando com seus próprios afazeres.
Karla estava entretida em seu livro. Gabriel brincava com seus bonecos de Dinossauro. E Bianca...bem, Bianca fingia ver televisão. Na verdade seus pensamentos pairavam em uma infinidade de situações adversas a realidade.
Ela criara um mundo só seu. Revestiu-se em um casulo que agora a aprisionava. Refém dos seus próprios pensamentos. Doce ironia. O caçador virou a caça.
Não era mais possível distinguir o real do sonho.
O que realmente aconteceu? O que foi inventado?
E isso a corroía. Aniquilou e subverteu sua alma.
Tchiiii. A TV ficou sem sinal. Na tela a recomendação: "Desligue seu aparelho e ligue novamente após 15 minutos".
Bia continuou olhando o aparelho. Não desviou um centímetro se quer. Não mexeu um músculo.
O casulo, o casulo, o casulo.
Gabriel grita:
- Mãaaaaae! Não está me ouvindo? Você não vai fazer o jantar?
Com a mesma expressão apática, ela olha para seu filho. Não fala nada. Levanta-se lentamente, feito um robô.
Vai ao encontro da porta da frente. Destranca. Gira a maçanete e....
Beeep Beeep. O despertador toca. Um volume ensurdecedor e extremamente irritante.
Os números em vermelho marcavam 05:45h
Amélia acorda. Mais um dia. Mais um, mais um.
Lembra-se do seu sonho e pensa: Bem que eu queria me chamar Bianca.