Lá estava, sentada em uma poltrona de couro velho e rasgado, com aspecto mal cheiroso e desconfortável.
A audiência de conciliação já tinha acabado e esperava pela devolução do meu documento. No corredor, duas mulheres conversaram sobre as dificuldades de se manter um casamento. Aquele assunto não me interessava, então parei de prestar atenção.
Naquele estreito corredor haviam seis estantes com um monte de caixas numeradas. Trezentas e vinte e quatro para ser mais exata. É eu contei. Nove prateleiras com seis caixas cada, dando um total de cinqüenta e quatro, vezes seis prateleiras, trezentas e vinte e quatro caixas.
Observei a outra sala discretamente. Três adolescentes faziam o atendimento ao público. Dois meninos e uma menina. Um deles ainda estava de uniforme. “Galeão”. E os outros dois com camisetas idênticas. “Iron Maiden”.
Enquanto imagina quão medíocre e superficial era a vida daqueles jovens, a sala que ficava atrás da poltrona velha ficou agitada. Alguém, que não aparecia por lá há muito tempo, deu o ar da sua graça. Era alguém muito querida por todos. Pelo menos foi o que a exaltação fez parecer. Mas a euforia logo cessou. A pessoa ansiada virou mais uma.
Voltei a prestar atenção na conversa matrimonial. Entediante. Agora, um homem e três mulheres: “É tem que cuidar bem do marido”......“Ninguém colocou uma arma na cabeça dele pra casar, então aguenta agora!”......“Ele é genioso, mas eu sou bem mais”.
Por vezes olhavam pra mim, que retribuía com um sorrisinho amarelo, e falavam: “Não é verdade menina? Ah você é nova, ainda não sabe como são essas coisas”.
A conciliadora veio com meu RG. Despedi-me dos prosadores e sai na Praça dos Três Poderes.
Fone de ouvidos: checado.
Óculos de sol: checado.
Sensação de frio que não passa: checado.
Volto para o escritório.
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